terça-feira, 29 de junho de 2010

"Pode ser a gota d'água!"

Pelas horas que eu perdi tentando achar explicações para sentimentos que, teoricamente, eu deveria sentir, mas, enfim, nunca fizeram morada em meu peito, desde sempre, decidi fazer por mim mesma a ‘isenção de culpabilidade’. Não sinto e fim. Não há que se falar em frieza ou maldade. Apenas se sente ou não. Não sinto. Nunca senti. Sempre forcei a saudade e o choro. Quando criança demorava a lembrar que estava fora de casa, outra criança chorava de saudade, e eu apertava a cabeça entre as mãos pedindo a Deus que fizesse com que lágrimas rolassem pelo meu rosto para que eu pudesse representar meu papel social: saudade de ‘casa’. Desde pequena uma mentirosa. Sim, mentia, era necessário. Como não mentir. Ou se mente ou não se adapta. Em verdade, nunca me adaptei. Pensando bem, o que eu sempre fiz foi fugir. Fugia pro quintal quando todos estavam reunidos, fingia sono quando comiam e fome quando riam. Estar ao lado, sempre estive ao lado, de ninguém, mas era ao lado que eu estava: o lado marginal ao lado do lado comum.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Eu calço é 37, meu pai me dá 36..."

"Por que cargas d'águas

Você acha que tem o direito

De afogar tudo aquilo que eu

Sinto em meu peito"

E eu ainda me pergunto “pra quer ter filhos?”. Pais são idiotas porque as pessoas são idiotas. Todos têm traumas familiares. Todos têm do que reclamar dos pais, das famílias, o que me aflige é o egoísmo das pessoas, de terem filhos para superarem seus traumas de infância.

Eles têm filhos e exigem que seus filhos sejam versões suas, sem os traumas de quando eram crianças, mas geram outros traumas nos filhos. Isso gera o tal “ciclo vicioso”. Eles, os pais, ignoram os apelos dos filhos, fazem de conta que o desejo, vontade e inclinação destes não sejam nada. O que vale mesmo é que suas crias sejam obedientes o suficiente para engolirem a seco tudo aquilo o que não mata a sede e rasga a goela.

Podem dizer o que quiserem, achar como quiserem: não quero filhos. São tão hipócritas, dizem “você pensa assim agora, mas mudará de idéia. Todos mudam.”. Somos todos iguais? Então por que há tanta diferença, tanta fobia? Dizem que não ter filhos não é cristão. Pois bem, que seja, não sou cristã. Renego e renegarei a tudo quanto puder para não ter de renegar a mim. Não cometerei tal crime, não serei humana como a humanidade de usar uma criança para consertar vícios insanáveis. Ouvi-los dizer que estão desgostosos, que não agüentam mais, que não somos os filhos que pediram a Deus, que somos todos preguiçosos porque não fazemos o que eles sempre ordenam (a escravidão acabou, porra. Ou não, pelo visto) fortalece a certeza de que não é disso que preciso, e não é isso o que busco para o meu futuro. E que não farei isso com nenhum outro ser, nem se algum dia eu gerar.

Viver numa casa onde só se ouve o silêncio entre os gritos; as fobias que uns têm pelas características dos outros; o ódio irrestrito e desmedido pela desobediência dos rebentos... Muito obrigada, mas não preciso ser castigada a vida inteira porque em algum momento da história decidiram que família é a melhor coisa que existe (deveria existir muita pouca coisa), e a mantêm pelo “silêncio dos inocentes”, que uma hora deixa a inocência, encara o erro e decide não incidir nele.

Somos todos frutos dos mesmos erros, e das mesmas tentativas inúteis de corrigi-los. Agimos por instinto? O meu me diz que filhos, marido, natais e almoços de domingos não são para mim. Cada um que carregue sozinho as marcas do passado e dos medos. No dia que eu puder estar presa (ninguém é livre de prisões) com a liberdade que tanto desejo... E minha casa? Está no meu peito, e estará tatuada em minha pele. Meu auto-retrato no claro da minha pele.