terça-feira, 30 de junho de 2009

"Deixa eu te mostrar"

A maior das putices que fiz a mim mesma foi despejar montes de palavras com significados presos na minha incoerente cabeça. Escrevi centenas de baboseiras, e esperei com uma falsa sinceridade que entendessem o que, pelo amor de Deus, eu estava escrevendo.

Nos últimos séculos eu percebi que não consigo escrever mais com a caneta, minhas idéias se atrapalham quando eu as canto, as falo ou tento escrevê-las: safadas egoístas.

Minha hipocrisia é tão insignificante quanto a de qualquer engravatado sendo diplomata... O que eu queria era poder ligar o tal do ‘foda-se’, e acabar com a angústia de ficar ouvindo choramingo amoroso, ainda bem que Deus não dá asas a cobra... à minha cobra. E não é que eu não me importe com quem tem confiança suficiente para chorar as mais profundas e egocêntricas verdades, mas é que se me chora a sua dor quer ouvir o que elas causam em mim: repulsa; mas do contrário, minha reciprocidade é grosseria e minha ‘ajuda’ uma punhalada.

Não planejo ‘os pequenos’, e não desejo com quem tê-los. A solidão me cai tão bem, que seria altruísmo demais para uma egoísta como eu desejar dividir meu sono com alguém.

Disseram-me em dada conversa, ou reflexão verossímil de toda as minhas mentiras (ah! Eu não minto, mas tenho tantos personagens a encenar...): “odeio sua linguagem dadaísta”. E eu sempre gostei de toda a ‘merda’ vanguardista-dadaísta.

A confusão que faço é a de desejar que sejam todos vocês sinceros o suficiente para que eu os chame de hipócritas baratos, pois uso ao meu bel prazer tudo o que posso tirar do nada da verdade. A minha verdade é só um ponto de vista momentâneo, que com certeza me causará dado benefício, vantagem ou nada. Em regra, eu não espero nada de ninguém, mas espero que estes ‘ninguém’, que em minha vida possuem nome e o meu amor, não esperem e não cobrem nada de mim.

Minha existência, na condição de humana devidamente inserida no seio da sociedade, está aqui para servir e vigiar, mas minha voz é muda, meus olhos cegos e minhas mãos analfabetas, então, não procurem contar com meus relatos, saibam apenas, caros vigiados, que estou atenta a tudo.

Ouço gritos, barulhos, gestos, visões... O satélite pesa uma pluma, teu corpo me prende o suficiente para me fazer livre. O que pesa e danifica é o peso, meu peso é o mínimo. Desapareço com as sombras, minha sombra é tão comum, que em tua vida, no máximo, há de se lembrar de mim como um nonsense decifrável.

"Flor da idade"

Era uma noite comum para alguns, mas para Carmem seria a primeira noite, primeira vez que iria a uma festa: vestido preto, sandálias de salto fino cor de prata; cabelos lisos e negros, amarrados num infantil rabo de galo, maquiagem leve: apenas realçava seus lábios finos e seus olhos grandes e escuros: apenas uma criança, quem sabe.

Ela passeava deslumbrada pelo imenso salão - nem em seus sonhos ele seria tão belo-. Olhava encantada a todos os lugares. Seu vestido batia elegante e sensualmente em seus joelhos, desenhavam os contornos de seu quadril e de sua cintura fina. Sua cor alva, pálida contrastava romanticamente com o negro de seu cabelo e de sua roupa: era magnífico... enfeitiçava.

O olhar expressivo, de quem esta descobrindo por entre a fresta da porta do quarto dos pais o presente de aniversário de quinze anos, chamou a atenção de um homem. Ele viu-se irremediavelmente atraído por aquela tradução de qualquer ordinário poema simbolista.

Seus olhares se viram, se amaram. Ela não compreendia o que sentia, ele sabia: desejava qualquer coisa sexual regada a trivialidade de um desejo além linguagem humana. As pequenas mãos de Carmem foram tocadas pelas mãos calejadas de história de Henrique. O corpo dela estremeceu, como se naquele instante, ela soubesse o que é o mais intenso prazer carnal, vulgar até, se não fosse o fato da pouca idade, do desconhecimento conceitual de sexo.

Seus corpos se encostaram, buscaram a calmaria um do outro. Como se não fosse aventureiro, Henrique a beijou, tocando levemente em seus cabelos, soltando-os. Suas mãos desciam pelo meigo e delicado rosto de Carmem, tocando em seus ombros. Escorregando até sua cintura. Uma explosão louca de excitação rompeu com toda a infância que ela levava consigo: sim, ela era apenas uma criança. E ela agradou-se do que sentira. E experimentou tudo o quanto pôde. Sua inocência ficara guardada naquele beijo, com aquelas mãos: eterno refém do sagrado primeiro amor, como o primeiro trago... depois do vício.

sábado, 6 de junho de 2009


"O jogador é um fogo a queimar"



Foi no dia em que eu esperava, apenas, que vencêssemos o jogo e nos classificássemos para as quartas. Naquele dia, às 21 horas, ouvi Ana Luiza Castro anunciar que Luis Fabiano fizera um gol... Apesar do resultado, ele, Luis Fabiano, já se fizera importante na minha vida. Sim, dos meus vários tipos de amor.



Todos os jogos, todas as brigas, as frases polêmicas “Entre brigar e bater um pênalti, eu prefiro ajudar na briga.” não borram o talento dele.



Há muitos anos defendendo Luis Fabiano na seleção, e sempre colocando na berlinda outros tantos – aqueles que eu não preciso nomear, diga-se de passagem, não têm futebol à altura da fama, mas que Galvão, Milton Neves, Luciano do Vale fizeram o favor de criá-los como craques -.



Ainda me dói lembrar do apoio dado por parte de uma das nossas torcidas organizadas à saída de Luis Fabiano do São Paulo Futebol Clube – assim como fizeram com o Kaká -, em ‘conluio’ com nosso ex-presidente e diretoria. Hoje, sei, que muitos deles, como eu, adorariam tê-lo, outra vez, defendendo nossas cores.



Sempre torcendo por ele, para que mostre o futebol que, há muito, me encantou e a tantos outros. Um craque, mas não por ‘falácia’.



De meias brancas, chuteiras brancas, sempre com o tronco pra frente, pronto para qualquer briga, para qualquer lance. Daqueles jogadores que não desistem da jogada. Peca, até, por querer vencer todos os lances. Mas é por isso que se diferencia dos ‘bonitinhos’ que não botam as pernas em risco.



Luís Fabiano, ever... forever.

"O que é verdade, e o que é desejo..."



Divago incansavelmente à procura de algo para aliviar o tempo que ainda me resta. Meu corpo está frio, rígido... A água da chuva não deixa meu sangue empoçar. Não sinto o cheiro de ferro, mas o seu gosto e insistente em minha boca.



“INFERNO!” Alguém grita ao meu lado. Será que não vêem que estou quase morta, mas não surda? Mãos estranhas passeiam por meu corpo. Não respeitam nem os moribundos.



- “Ela ainda esta viva. Cadê a ambulância?”



Ouço perto o barulho das sirenas. Será que ainda dá tempo? Será que me salvo? Meus dentes estão vermelhos, acho que rasguei o meu véu da vida. Será que se pode costurar isso? Remendar? Acho que não.



- “Saiam todos. Abram caminho. Deixem-nos passar. Raul, tire todos de perto dela”



A para-médica segura minhas mãos e diz que tudo ficará bem, que eu estou a salvo, desde que eu fique com ela – “Fique comigo. Como é o seu nome? Luiza? Luiza, fique comigo, oquei? A estamos levando para o hospital.”



Num dos momentos mais importantes da minha vida, a minha morte, oras, só me lembrei de ironias, não havia outra coisa que eu precisasse falar... E na mais sã das minhas falas eu disse àquela que falsamente segurava minhas mãos:



- “Não. Tirei as cortinas, agora, eu descobrirei o tal do Deus.”

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Whatever"

Eu tenho sono, e estou cansada das suas loucuras. Por que, hein, você não me deixa aqui, quieta e muda? Quero apenas me deitar. Eu já disse, estou cansada... muito cansada.

Suas pernas já irritam as minhas, quando as toca. Seu cabelo está oleoso, e seus olhos não me dizem nada. Simplesmente nada. Será que você morreu, hein? Morreu? Ou será que quem morreu fui eu? Tanto faz.

Ah! E essa planta. Não aguento mais regá-la. Eu disse a ele que não comprasse, ou que cuidasse dela. Planta suja. Pra quê, hein, esta planta? Aquele cachorro? Ele comprou uma bermuda. Odeio quando ele usa bermuda com regata. Me dá náuseas. Sim, sinto náuseas dele, algum problema? Tanto faz.

Sabe, em outrora eu não me importava com o que eu odiava, e sentia por ele o amor que tenho às coisas que amo. Mas e agora, hein, onde estou? Quem me guarda? Tanto faz.

- Não, por favor, não toque em mim com estas suas mãos.
- Mas você gosta das minhas mãos, Camila. Sempre gostou. Sempre disse que gostava.
- É... eu gostava, e foi por causa delas que estamos juntos. Mas não gosto mais. Não consigo olhar para elas.
- Você tá drogada?
- Não.
- Você é louca, sabia?
- Sim, sim... Já me disseram isso. Não quero mais as tuas mãos.
- Eu as corto. Eu as tiro. Você prefere um homem sem mãos?
- Um homem sem mãos é pior do que um homem com mãos não mais amadas.
- Sua louca. LOUCA.
- Pode, oquei, parar de me chamar de louca. Eu já disse que sou, ou talvez eu seja.
- Hein, Camila, quer uma taça de vinho?
- Hein?
- Não discutirei com você, oquei? Você é louca. Quer vinho ou não?
- Quero. Por favor.
- Ver filme? Ouvir música?
- Não. Só... joga essa planta fora? Corta as mãos?
- Não. Não jogo fora e não corto as mãos. Beber vinho no canudinho não dá.
- É verdade. Oquei. Eu abstraiu.
- Louca
- Tanto faz.

"Havia algo de insano"

O braço direito dela estava apoiado na janela, e seu rosto deitava em seu antebraço. Os olhos vislumbravam qualquer coisa que os prédios não conseguiram impedi-la de ver. Tinha um leve sorriso nos lábios, um sorriso louco. Os lábios insanos.

Numa piscada longa, talvez ela tivesse rido ironicamente de toda a sua vida. Largou a janela e deu-se a andar pela sala, onde havia uma samambaia – a única planta da casa que ela gostava, todas as outras tinham flores – e seus dedos roçaram delicada e insensivelmente suas folhas.

A casa estava vazia, e ela gostava tanto, mas sabia que em breve os demais moradores chegariam, e todo o seu gosto alegre seria substituído por uma estranha vontade de ficar longe de todos eles. Preferiu não pensar no repudiado repúdio, ligou o som. E ao som de ‘La Boheme’ dançou, e desejou dançar para sempre. Seu corpo rodopiava frenética e desengonçadamente. Ela sentiu-se uma bailarina de qualquer balé russo – não entendia nada de balé, mas sempre se lembrava de uma bailarina anã russa de um livro qualquer que lera há muito – e caiu no chão. Soltou uma doce e medonha gargalhada. O desespero é tentador.

Toda essa movimentação física acendeu a vontade de beber... vinho. Foi à cozinha pegar uma taça, e olhou para a geladeira “Tina, não esqueça que hoje é o seu dia de arrumar a casa.”. Uma raiva cruel tomou conta da vontade de dançar “odeio que me digam o que fazer. Não agüento mais.”; caminhou até a sala, pegou um papel e escreveu um bilhete, deixou-o, fixado, acima do recado que lhe deixaram na geladeira.

Em seu quarto, Tina, arrumou algumas coisas, pegou algum dinheiro, e tirou de sua bolsa todas as fotos que carregava, não haveria mais chantagem emocional. Abriu a porta e saiu.

Quando os ‘demais’ moradores chegaram a casa, encontraram tudo bagunçado. Tina não arrumara coisa que fosse. Rafael, que era o mais velho da república, foi até a geladeira para conferir se o bilhete não havia caído, e encontrou o recado de Tina:

"Não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração.”. Um dia, talvez, eu volte. Ah! Guardem as fotos que “eu não quis carregar.”

quinta-feira, 4 de junho de 2009

"Beyond here lies . Nothing done and nothing said"


Eu podia ser aquela fraca, sentada olhando enquanto pessoas passavam. Eu me perguntava a todo o momento se eu deveria me levantar e sair, procurar o que quebrar; ter algo pra destruir. Não, me portei correta e estupidamente social. Fiquei calada, olhando, examinava todos e tudo.

A cada momento eu arrumava uma explicação para a felicidade dos outros, eu dizia sempre 'os ignorantes são felizes'. Mas, ao final, quando o banco onde eu me sentava quebrou, o copo sujo em que bebia uma dose de pinga qualquer caiu em meu peito, sujou-me por fora, com a loucura que eu sentia por dentro; e o copo bateu com força contra o chão, os pedaços de vidros por todos os cantos, ao meu redor, refletiram minha existência, refletiram o meu nada: impossível que eu remendasse algum dia... Fizeram com que eu sentisse a minha vida, um amontoado de fracassos que não eram meus. Eu os catava para continuar ignorante... ignorando ser feliz.


Mas, e ai, você consegue ver o brilho da minha vida? Pois agora, nestes cacos de vidro que sugerem a desordem em que vivo, uma forte luz incide... Você consegue me ver? Vê que a minha vida sempre brilha, porque sempre onde nada nunca se vê, enxerga-se o medo. Não tema tanto que seja eu a sua fraqueza, eu sempre brilho. Vejas a minha luz, sinta o meu reflexo.

Sei, que em algum momento, qualquer coisa aleatória que eu disse, ou deixe de falar, serviu a você como motivo pra continuar comigo... Mas não, você enganou-se. Sinto muito, Não foi assim que eu quis, e não é assim que eu quero.

Quantas vezes você gritará em meus ouvidos que eu não farei o que quero? Por que, então, é você quem sempre grita? Quem sempre abre a porta?

"Não é alegria nem dor esta dor com que me alegro."


No meu futuro, talvez, só haja espaço para a solidão, mas que outros se façam presentes, ao menos, até que eu precise/queira estar sozinha.

Nunca há nada no caminho.

Não há guardadores de rebanhos.