Era uma noite comum para alguns, mas para Carmem seria a primeira noite, primeira vez que iria a uma festa: vestido preto, sandálias de salto fino cor de prata; cabelos lisos e negros, amarrados num infantil rabo de galo, maquiagem leve: apenas realçava seus lábios finos e seus olhos grandes e escuros: apenas uma criança, quem sabe.
Ela passeava deslumbrada pelo imenso salão - nem em seus sonhos ele seria tão belo-. Olhava encantada a todos os lugares. Seu vestido batia elegante e sensualmente em seus joelhos, desenhavam os contornos de seu quadril e de sua cintura fina. Sua cor alva, pálida contrastava romanticamente com o negro de seu cabelo e de sua roupa: era magnífico... enfeitiçava.
O olhar expressivo, de quem esta descobrindo por entre a fresta da porta do quarto dos pais o presente de aniversário de quinze anos, chamou a atenção de um homem. Ele viu-se irremediavelmente atraído por aquela tradução de qualquer ordinário poema simbolista.
Seus olhares se viram, se amaram. Ela não compreendia o que sentia, ele sabia: desejava qualquer coisa sexual regada a trivialidade de um desejo além linguagem humana. As pequenas mãos de Carmem foram tocadas pelas mãos calejadas de história de Henrique. O corpo dela estremeceu, como se naquele instante, ela soubesse o que é o mais intenso prazer carnal, vulgar até, se não fosse o fato da pouca idade, do desconhecimento conceitual de sexo.
Seus corpos se encostaram, buscaram a calmaria um do outro. Como se não fosse aventureiro, Henrique a beijou, tocando levemente em seus cabelos, soltando-os. Suas mãos desciam pelo meigo e delicado rosto de Carmem, tocando em seus ombros. Escorregando até sua cintura. Uma explosão louca de excitação rompeu com toda a infância que ela levava consigo: sim, ela era apenas uma criança. E ela agradou-se do que sentira. E experimentou tudo o quanto pôde. Sua inocência ficara guardada naquele beijo, com aquelas mãos: eterno refém do sagrado primeiro amor, como o primeiro trago... depois do vício.
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