sábado, 22 de agosto de 2009

Lume

“Para quê mandar cartas?” Foi a pergunta que uma amiga, recentemente, me fez. Eu meditei cretinamente sobre aquilo. “Para quê mandar cartas?”, seria mais fácil, em teoria, apenas telefonar. Eu não precisaria sair de casa. Mas nada é tão singelo e tentador como palavras, mesmo aquelas das ‘mal traçadas linhas’ emocionadas.


Eu preciso até confessar que me entorpece a existência as belas frases. O néctar clichê dos apaixonados por algo tão sutil; e a certo ponto irrelevante como as tão gastas palavras, uniformemente lado a lado, gritando em meus ouvidos uma existência que transcende aos excessos humanos. Que deixa à beira do abismo, o corpo envolto no véu da castidade entediante dos que apenas preferiram tocar o que é ‘apalpável’.


Ainda ouço aquilo que me diz a Noite. Aquele vento que reacende dentro de mim todos os meus pavores, os meus monstros: os motivos pelos quais me tentaria o suicídio. Uma calma com cheiro de desespero torna inerte qualquer tentativa de suplício. Nada me excita tanto a imaginação quanto o terror dos olhos dos meus sonhos.


‘E alucinando e em trevas delirando,
Como um ópio letal, vertiginando,
Os meus nervos, letárgica, fascina... ’



Sei que de nada, tudo isso valha muito. Mas é um todo que faz necessidade à minha alma, os traços dos meus amores, dos meus encantos. Das paisagens visitadas sempre que eu, simbólica e nada sublime, me enceno. Apenas mais uma navegante dos mares turvos, vigiados e endemonizados por aqueles que não veem a beleza no que está além da posse da ‘figurada’ realidade.

domingo, 16 de agosto de 2009

E nós saberemos criar...

E depois, e já tendo desistido de procurar o encaixe imperfeito que torna todo o caos a única paz a se buscar, eu resolvi pôr dada ordem em meu mundo... Mas, lembrando-se sempre, que minha ordem, o meu cosmo é sempre uma bagunça, inexplicável como qualquer verdade única, não existe.


Pensando sobre fatores e circunstâncias cheguei a decisão de que, apesar da não esperança, pretendo encontrá-lo, seja lá como for.


E, a despeito do que fora escrito no parágrafo insultuoso acima mal posto, penso que muitos sabem muito bem do que posso eu estar procurando, desculpem-me, de quem posso estar à procura. Mas, ainda que lhe afetem a sagacidade do conhecer o Ser, eu digo que esqueças, que ‘incrompeendas’, pois, na certeza, você nada perto chegou do quê ou quem procuramos.

sábado, 15 de agosto de 2009

o acaso faz o ladrão?

"Ele canta por amor
Eu só canto por dinheiro
No seu canto tem valor
No meu canto tem vintém
Ele geme a sua dor
Eu não choro por ninguém...
Ele casa no verão
Eu namoro o ano inteiro"

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

à loucura que me faz de morada...

E ali estava eu, ouvindo-o gritar como um louco; mas confesso que muito pouco ouvi de tudo o que ele bradou. Ele gesticulava de uma forma engraçada, me deu vontade de rir, e eu ri “Você é louca. Ainda debocha de mim, depois de tudo o que você fez? Você não tem respeito por nada, por ninguém. Perdi meu tempo com você... PERDI MEU TEMPO”, e, terminando com essa frase, bateu com a porta e nunca mais voltou, espero.

Comecei a pensar, então, em 'PERDI MEU TEMPO'. E não acho que tenhamos perdido o tempo um com o outro. Como diz a música “foram tantos gritos roucos, tantos beijos loucos...” que a nossa história não poderia ter sido apenas uma perda de tempo. Mas eu o entendo, como entendo a quase todas as pessoas: as coisas só valem enquanto podemos consumir. Consumir as pessoas, os sentimentos, as vontades. Comprar, vender, trocar, 'comer'... quanto mais pessoas melhor. Nos prostituir, prostituir nossas emoções, nossos sentimentos. Suas vontades, minhas mentiras: nossos deboches e máscaras.

E ali ‘além da máscara’ estava eu... Em verdade pouco usei a tal máscara comum, por isso, talvez, ele se tenha tão facilmente cansado de mim, Uma honestidade ‘vil’ – muitos assim gostaram de chamar minha franqueza – era única coisa real que existia... O único ponto comum entre aquela máscara que eu construí com a dor da perda de alguns sonhos, e a obrigação em ser um ser-sociável-sem-originalidade-emocional-emotivamente-padrozinada-culturalmente-submissa-à-vontade-de-quem-se-ama, com a versão de mim mesma, ou a original da cópia que sempre uso, mesmo que eu tenha várias cópias de cópias de cópias e que ao final são todas novas versões nada parecidas, penso, com a original que pouco conheço pelo fato de me terem tirado-a quando eu comecei, por mim mesma, a escolher que roupa usar, ou a vestir sozinha a própria calcinha, ou ainda a amarrar o cadarço – mesmo que sempre digam que eu escolhi o jeito mais difícil, menos prático de amarrar o cadarço –. O único traço comum entre a verdade e a mentira é uma das piores de minhas qualidades, o que me leva a pensar que no mais não devemos ser honestos, apenas o que se espera, mesmo que se minta, que se falsifique, engane e etc.

Estou tão enganada assim, por amar como o amor me vem? Será que o único amor é o amor festfood novelístico: 'Oi... te amo... quer casar comigo?... vamos ter um filho?... maldito, eu te criei, eu te fiz, eu te dei amor, carinho e agora você faz isso?... quero me divorciar, vadia. Nunca devia ter me envolvido com você... não, Meritíssimo, não quero continuar casado com ela... oi...te amo...quer casar?... não quero ter filhos... eu odeio aquele seu cachorro, livre-se dele... não estou te traindo... não estou te traindo... não estou bêbado, sua safada... não, não estou diferente, e nem mais feliz... não estou mais feliz... estou apaixonado por outra, quero me divorciar... te amo, quer casar comigo...... e assim vamos consumindo o que há por consumir, afinal, a velocidade é 'alma do negócio'.

E agora que dói no peito, espero não me acostumar à dor: ainda há tempo. Ainda há loucos que andam sós...

sábado, 8 de agosto de 2009

...ainda que faça falta...


E há muito tempo, quando a gente achava que o mundo seria como os nossos olhos viam, que estaríamos sempre juntas, que nossos sonhos seriam de um presente divertido, de uma vida de êxtase. Mas foi quando nos mostraram a realidade, e nos disseram que a adolescência se encera aos 18, e é inadiável...

Ainda vejo reflexos e guardados de uma época que a gente sabia ser livre, e brincava de “mochileiras do universo”.

E numa das maiores ausências, uma dor de conformismo se antepôs à dor da despedida: um abraço; e a gente aceitou que tudo tem um fim, e que o nosso (aquele nosso) estava ali, seria guardado numa lágrima e num grito...quando algo partiu.

Num coração remendado sem jamais ter sido quebrado; num olhar miúdo e calado de alguém que pressente que o fim esteve próximo, e que o passamos...

Mas a gente sabe que um futuro é em sonho...e para ser sonhado. Espero ainda vocês e a mim. Quem sabe, talvez, num passado próximo a gente possa contar novas histórias: “e foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais, que o mundo compreendeu... e o dia amanheceu em paz.”