sábado, 6 de junho de 2009

"O que é verdade, e o que é desejo..."



Divago incansavelmente à procura de algo para aliviar o tempo que ainda me resta. Meu corpo está frio, rígido... A água da chuva não deixa meu sangue empoçar. Não sinto o cheiro de ferro, mas o seu gosto e insistente em minha boca.



“INFERNO!” Alguém grita ao meu lado. Será que não vêem que estou quase morta, mas não surda? Mãos estranhas passeiam por meu corpo. Não respeitam nem os moribundos.



- “Ela ainda esta viva. Cadê a ambulância?”



Ouço perto o barulho das sirenas. Será que ainda dá tempo? Será que me salvo? Meus dentes estão vermelhos, acho que rasguei o meu véu da vida. Será que se pode costurar isso? Remendar? Acho que não.



- “Saiam todos. Abram caminho. Deixem-nos passar. Raul, tire todos de perto dela”



A para-médica segura minhas mãos e diz que tudo ficará bem, que eu estou a salvo, desde que eu fique com ela – “Fique comigo. Como é o seu nome? Luiza? Luiza, fique comigo, oquei? A estamos levando para o hospital.”



Num dos momentos mais importantes da minha vida, a minha morte, oras, só me lembrei de ironias, não havia outra coisa que eu precisasse falar... E na mais sã das minhas falas eu disse àquela que falsamente segurava minhas mãos:



- “Não. Tirei as cortinas, agora, eu descobrirei o tal do Deus.”

Um comentário:

  1. "Na mais sã das minhas falas"... Muito bom, Cicari! Hahaha, vai ter algo sobre o "tal" Deus ou seria especular demais?

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