quarta-feira, 31 de março de 2010

"E querem me torcer, me estragar, me partir, me secar e me deixar pele e osso"*

Isso ainda vai me consumir. Já me consome, na verdade. Não quero que saquem de minhas veias minha vida, meus amores. Malditos sanguessugas desgraçados, inexpressivos... exploradores adormecidos... máquinas inanimadas de falas cheias de emoção e dogmas disformes. Me consomem, me acabam... tirando tudo de mim. Suas vidas, seus amores... meus, MEUS.

Minha cópia, meu cuspe... o espelho que se quebra. Uma garrafa dissimulada de fim, nas mãos... um golpe, uma tentativa. Saciada, mas nunca não faminta.

Hoje eu só quero gritar que tenho nojo, estou com nojo de todas as pessoas. Suas existências mesquinhas e vazias. Suas cópias e seus clones. Tranco-me na certeza de meu reboco, na infância dos meus traços. Tive Lego e aeronaves. Hoje, ainda, leio, apesar de não fazê-lo com o mesmo entusiasmo de quando ainda era inocente, ‘sereias do espaço’ e divirto-me ao pensar no passado do futuro, e imaginar grandes cidades espaciais... em imaginar ‘star wars’ de diversidade. Divago nas minhas divagações vividas no passado, em que um filme (Hackers) era a grande inspiração para as minhas brincadeiras. Um caderno: um computador; meus patins: minha liberdade. Nas brincadeiras singulares, nas fantasias solitárias... nas interpretações, nas loucuras. Momento em que eu podia, sem prejuízo para a minha sanidade ‘social’, imitar, interpretar, conversar... ser tantas pessoas quanto eu pudesse fazer atuar no mesmo ato. Sim, tempo foi passando e o que era antes feito às claras, fora feito no silêncio do cérebro, p’ras paredes do quarto.

Quando hoje, ainda, vejo meus traços refletido nos que estão próximos. Preciso confessar que certo tipo de hipocrisia ( e tantos outros tipos), fazem parte de mim. Meus amores estranhos, meu ciúme doentio. O nojo escarnado pelo que amo. O ódio fascista dos meus olhos. Minha boca, minhas mordidas. Meu silêncio atormentador... As falas comedidas... e como naqueles filmes que mostram o que ‘realmente’ o personagem gostaria de estar falando (vide o recepcionista gay do filme ‘medo e delírio em Las Vegas’, quando um policial, arrogante acima da lei, acha que pode assediar moralmente alguém, e que este alguém deve, pelo princípio de que o cliente tem sempre razão, ficar calado), assim sou: a voz emudecida, mas que se falasse precisaria, o dono da voz, refugiar-se em algum lugar que nada entenderiam de suas profanações.

Pronto. Recebi uma dica: ‘mantenha-a sempre por perto. Pode ser preciso’; mais perto, talvez possível... talvez desnecessário. Mas, voltando ao tema (existe um, apenas um?), cansada, enojada e enciumada dos meus amores, profanados por bocas imundas. Alguns que fazem juras imorais (ah! meu amado Chico) por saber não ser sincera a verdade do amor. Dos dogmatizados que sempre têm tanta certeza sobre si mesmos e sobre os que o cercam. Que não bebem e não fumam. Que dizem que não precisas disso, ‘o mundo é lindo’. Que não entendem e se sentem confortáveis em renegar tudo o que é existente em outra pessoa. Que pessoas são essas? Que prepotências os assolam que os tornam tão medrosos quanto a si mesmos, e invejosos de outros, que julgam tudo errado e de baixo calão, por apenas, a outra voz, gritar com um ardor não visto, e por eles não sentido? Que corpo é este que abriga o triste dos mortais que se fazem superiores, que se apegam a singelas ou escrotos defeitos, de outrem, p’ra se fazerem livres das próprias dores e máculas? Que escarro de humanidade é esta que tira do belo, sempre, o que não é perfeito e óbvio. Que arte é esta, que vida é esta... quem são estes, aqueles... quem são vocês?! Por que, ainda, insistimos em caminhar ao lado deles, a lhes mostrar o que vemos... mesmo que jurem juras não imorais, não sentem, não sentirão jamais. São vazios, ocos sociais. Nunca, jamais sentiram. Renegados de si mesmos, pelos defeitos dos outros. Lixo e escrotos

*Baseado no texto "Joana e as vizinhas", Gota d'àgua - Chico Buarque de Hollanda.


terça-feira, 30 de março de 2010

É... posso perguntar?!

Quais de mim caberia em você?!

segunda-feira, 29 de março de 2010

"desmatando..."

Vontade estúpida de largar tudo. Queria correr, correr... maratonista sem linha de chegada. Queria nunca ter visto teus olhos... Meu sangue ferve (mesmo na dor não há que se abandonar o sarcasmo dos clichês), drogas que eu não usei, álcool que eu não bebi... sinto no meu corpo, gritando pra que outra de mim tome conta do meu eu: uma menos otária, menos medrosa, menos ciumenta, menos desesperada, mais calada, mais sacana... ESQUIZOFRENIA... é isso. Este é o segredo. Me comprometo a tentar...

sábado, 27 de março de 2010

"Vem, meu menino vadio..."


http://www.youtube.com/watch?v=G8-6pZxJ4yc


Me desculpa, meu amor, a covardia. Me perdoe, pois eu mesma não sou capaz, pela distância. Por eu ter fugido, abandonado a mim mesma sem você, quando a todo o momento, mesmo que eu dissesse não precisar, eu só queria sentir o seu cheiro, e o cheiro que ficava em mim.



Sei que sou arrogante, sei que finjo tudo tão bem; que não posso culpá-lo por não saber que, finalmente, eu o amo. Sim, finalmente posso gritar... mas é tarde e ninguém poderá me ouvir. Grito?! Me silencio, outra vez? E minha chance passou, o vi sair tão belo... e não me dei ao trabalho de lhe segurar os braços, de prender teus pés e pedir que ficasse.



“Tudo anda desesperado, hoje. Não tive um bom dia, tampouco uma boa semana. Discuti com outros amores, e ignorei tantas coisas importantes. Ri de uma conversa que ouvi, queria pode contar para você, tenho certeza que compreenderia que não é maldade... só sarcasmo.”



Você ainda pode me ouvir? Poderá me ouvir de novo, alguma vez, talvez?! Se eu deixar aquele recado, você ainda se lembra da minha letra?... "Você nunca viu minha letra.".





"seja no que despertou..."

Cá estou, perdida no tempo. Tempo certo, o melhor da vida, dizem. A hora exata para eu poder Ser, para eu me fazer... Refazer-se?! Não há tempo, dizem.

Ele disse que não existe sem ela (ou ele), eu sim. Não me vejo mais, não sei de qual delas (de mim) escreve agora. Será a que tu amas, ou será a que tu odeias?! Dói, corrói teu peito saber que eu posso sair, naquele dia em que me preparou uma surpresa, e não voltar jamais. Nunca mais. Nunca. Nunca. De tanto ardor, nunca mais existir. Acabar para existir. Acho que alguém cantou algo assim. Deixar de ser para se tornar. Tornar algo para nunca mais ter de ser nada.

Nada! Sempre o nada. Ser nada. Fazer nada. Prometer nada. Ter nada... Tudo. Todo..o nada. Disseram que só uma existência pode ser completa e ter fim e começo e meio em si mesma, o Nada. O nada em si é a única forma de ser total. À procura de ser completo é a busca por nada, nada ser.

sexta-feira, 26 de março de 2010

...

Nojo. Nojo. Nojo. N.O.J.O. É só isso que sinto por você. Um grito amargo, uma preguiça em mudar a vontade, em impedir a distância.

Sua presença, quase um estupro... em minha mente. Minha calma, sempre tão impaciente... odiosa companhia, destrutiva intimidade. É, nojo... apenas nojo. Nojo dos fins, nojo das visitas... nojo das palavras, das conversas... nojo da existência.

"Arrancou-me do peito"

Será para sempre assim, uma 'orfandade'; estamos ligados por alguma teia que eu não faço a mínima questão de enxergar e exterminar, mas faço necessário fugir e largar... "tocar fogo neste aparamento.".

Quando digo 'tocar fogo neste apartamento' eu poderia simplesmente referir à soltura dos laços, das prisões. Alguns de nós precisam ser cruéis para conquistar e permitir paz às outras pessoas. Se é esta a minha função... Em verdade não me preocupo com a função, a minha função. Em digna honestidade nem a função interessou-se por mim, tampouco eu por ela: casamento perfeito, de interesses. Se são frágeis, os sonhos, sou frágil, pois sou sonho. Se sou romântica, sou idiota. Se sou todos estes 'assim sou', então sou. Apenas sou o que digo ser, e talvez não vejam o que sou, pois dizem que eu posso ser algo de que não sou. Não que eu não seja, mas no que me limitam a ser, não sou. Limitações de 'ser', sou (ou não).

A procura insistente dentro daquilo que abriga a miséria das minhas angústias. Não sei se a miséria é o sofrimento, ou se o sofrimento me salva da miséria. No grupo dos que se alimentam de si mesmo, 'auto-antropófagos'... por que não? devoro-me, ou me devorarão. Pelo menos no meu auto-devorar-me sei quem me devora e do que necessita de mim, do me eu sobrará: tudo em mim. A digestão do meu próprio eu, por mim mesma, sou, a resultante. A resultante podem ser tantas quantas eu puder digerir. Meu intestino... o ânus do que for lixo, será parte de mim mesma. Sou todos os canais: do que ingere ao que liberta. Minha própria liberdade.

Certo, amigo, agora, conte: o tempo passa. Quando você acordar velho, na mesma cama, na mesma casa, para a mesma função social de mais de 30 anos... não desespere, a velhice é um alento "vivi ordinariamente (tão comum), sem emoção, sem explosão... nunca sai daqui, mas sei que hoje, ao menos, estou seguro, posso morrer em segurança... e sem bagagem.

Se tiver de amarrar-se a algo escolha um algo que você não odiará. No qual, se assim não for, será do tipo que odeia aquilo que deveria amar. Aquele amor obrigatório, pois, afinal, no que dizem das escolhas, empurradas ou não, você tem parte com elas, das culpas. A culpa é tua e a dor só você carregará. E ai, os braços da tranquilidade, o alento quente do amor-inexistente é válido?!

Tem mais.

Sabe de uma coisa um tanto cruel?! É começar a escrever algo lógico, no caminho seguro... e o trem desandar com o desenrolar do desdos no teclado. 'Ah! meus pobres enganos', Rita.

terça-feira, 16 de março de 2010

"De todas as criaturas, a mais sanguinária."

Ele vestiu as calças, e ela continuava sentada na cama, imóvel, estrangulando seu amante; ele abaixou-se, calçou meias, sapatos e ela olhando, muda, enervada, enraivecida a ponto de cometer um crime; ele dá os nós nos cadarços e ela dá um nó na língua: quer queimá-lo, furar seus atraentes e perversos olhos verdes. Paolo levanta-se, cata o paletó, numa indiferença enojada por sua comparsa de sexo, e sai, fecha a porta, cerra a sanidade de Rita. Ela levanta-se, louca, arrependida, amargurada, sem rumo. Grita, gira seu corpo por aquele quarto de hotel barato, joga a garrafa de vodka vazia contra o espelho, quebra-o. Seu coração, aquele que ela quis dar a alguém, mas esqueceu-se de que sem o próprio coração ninguém pode sobreviver... e ela não queria morrer.

Rita olha pela janela e vê Paolo saindo do prédio, sua vontade é de jogar a tevê de quatorze polegadas pela janela a atingi-lo, para que morra. Seu rosto e suas mãos se contraem e seus olhos se reviram, seu pescoço impaciente quer saltar fora do corpo. Ela respira fundo, acende um cigarro e fuma. Abre o frigobar e pega uma cerveja, senta-se à cabeceira da cama, cruza as penas longas e finas, e delicadamente engole aquele líquido amarelo, gelado que esfria sua cabeça: “essa maldita porta sempre se abre”.