Ele vestiu as calças, e ela continuava sentada na cama, imóvel, estrangulando seu amante; ele abaixou-se, calçou meias, sapatos e ela olhando, muda, enervada, enraivecida a ponto de cometer um crime; ele dá os nós nos cadarços e ela dá um nó na língua: quer queimá-lo, furar seus atraentes e perversos olhos verdes. Paolo levanta-se, cata o paletó, numa indiferença enojada por sua comparsa de sexo, e sai, fecha a porta, cerra a sanidade de Rita. Ela levanta-se, louca, arrependida, amargurada, sem rumo. Grita, gira seu corpo por aquele quarto de hotel barato, joga a garrafa de vodka vazia contra o espelho, quebra-o. Seu coração, aquele que ela quis dar a alguém, mas esqueceu-se de que sem o próprio coração ninguém pode sobreviver... e ela não queria morrer.
Rita olha pela janela e vê Paolo saindo do prédio, sua vontade é de jogar a tevê de quatorze polegadas pela janela a atingi-lo, para que morra. Seu rosto e suas mãos se contraem e seus olhos se reviram, seu pescoço impaciente quer saltar fora do corpo. Ela respira fundo, acende um cigarro e fuma. Abre o frigobar e pega uma cerveja, senta-se à cabeceira da cama, cruza as penas longas e finas, e delicadamente engole aquele líquido amarelo, gelado que esfria sua cabeça: “essa maldita porta sempre se abre”.
fico pensando se a porta não tem chave. se ela é livre. ou se ela está sempre aberta esperando que realmente todos se vão, mas 'finge' estar fechada. ou se realmente lutam pra ir. no fim a porta se abre e a gente pensa: 'pra que reclamar se tem conhaque?'
ResponderExcluirela tem medo de que sempre exista um alento ali, onde ela não quer mais estar. Ou que o próprio não querer estar ali seja um alento.
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