Isso ainda vai me consumir. Já me consome, na verdade. Não quero que saquem de minhas veias minha vida, meus amores. Malditos sanguessugas desgraçados, inexpressivos... exploradores adormecidos... máquinas inanimadas de falas cheias de emoção e dogmas disformes. Me consomem, me acabam... tirando tudo de mim. Suas vidas, seus amores... meus, MEUS.
Minha cópia, meu cuspe... o espelho que se quebra. Uma garrafa dissimulada de fim, nas mãos... um golpe, uma tentativa. Saciada, mas nunca não faminta.
Hoje eu só quero gritar que tenho nojo, estou com nojo de todas as pessoas. Suas existências mesquinhas e vazias. Suas cópias e seus clones. Tranco-me na certeza de meu reboco, na infância dos meus traços. Tive Lego e aeronaves. Hoje, ainda, leio, apesar de não fazê-lo com o mesmo entusiasmo de quando ainda era inocente, ‘sereias do espaço’ e divirto-me ao pensar no passado do futuro, e imaginar grandes cidades espaciais... em imaginar ‘star wars’ de diversidade. Divago nas minhas divagações vividas no passado, em que um filme (Hackers) era a grande inspiração para as minhas brincadeiras. Um caderno: um computador; meus patins: minha liberdade. Nas brincadeiras singulares, nas fantasias solitárias... nas interpretações, nas loucuras. Momento em que eu podia, sem prejuízo para a minha sanidade ‘social’, imitar, interpretar, conversar... ser tantas pessoas quanto eu pudesse fazer atuar no mesmo ato. Sim, tempo foi passando e o que era antes feito às claras, fora feito no silêncio do cérebro, p’ras paredes do quarto.
Quando hoje, ainda, vejo meus traços refletido nos que estão próximos. Preciso confessar que certo tipo de hipocrisia ( e tantos outros tipos), fazem parte de mim. Meus amores estranhos, meu ciúme doentio. O nojo escarnado pelo que amo. O ódio fascista dos meus olhos. Minha boca, minhas mordidas. Meu silêncio atormentador... As falas comedidas... e como naqueles filmes que mostram o que ‘realmente’ o personagem gostaria de estar falando (vide o recepcionista gay do filme ‘medo e delírio em Las Vegas’, quando um policial, arrogante acima da lei, acha que pode assediar moralmente alguém, e que este alguém deve, pelo princípio de que o cliente tem sempre razão, ficar calado), assim sou: a voz emudecida, mas que se falasse precisaria, o dono da voz, refugiar-se em algum lugar que nada entenderiam de suas profanações.
Pronto. Recebi uma dica: ‘mantenha-a sempre por perto. Pode ser preciso’; mais perto, talvez possível... talvez desnecessário. Mas, voltando ao tema (existe um, apenas um?), cansada, enojada e enciumada dos meus amores, profanados por bocas imundas. Alguns que fazem juras imorais (ah! meu amado Chico) por saber não ser sincera a verdade do amor. Dos dogmatizados que sempre têm tanta certeza sobre si mesmos e sobre os que o cercam. Que não bebem e não fumam. Que dizem que não precisas disso, ‘o mundo é lindo’. Que não entendem e se sentem confortáveis em renegar tudo o que é existente em outra pessoa. Que pessoas são essas? Que prepotências os assolam que os tornam tão medrosos quanto a si mesmos, e invejosos de outros, que julgam tudo errado e de baixo calão, por apenas, a outra voz, gritar com um ardor não visto, e por eles não sentido? Que corpo é este que abriga o triste dos mortais que se fazem superiores, que se apegam a singelas ou escrotos defeitos, de outrem, p’ra se fazerem livres das próprias dores e máculas? Que escarro de humanidade é esta que tira do belo, sempre, o que não é perfeito e óbvio. Que arte é esta, que vida é esta... quem são estes, aqueles... quem são vocês?! Por que, ainda, insistimos em caminhar ao lado deles, a lhes mostrar o que vemos... mesmo que jurem juras não imorais, não sentem, não sentirão jamais. São vazios, ocos sociais. Nunca, jamais sentiram. Renegados de si mesmos, pelos defeitos dos outros. Lixo e escrotos
*Baseado no texto "Joana e as vizinhas", Gota d'àgua - Chico Buarque de Hollanda.
sabe aquela sensação ao ver seu ator preferido - por vários motivos que o mundo não entenderia - dizendo uma frase que você se dá conta de que deveria ter sido dita por você, em uma cena de um filme que resume tudo? o jhonny na banheira, segurando o cigarro, coçando os olhos despretensiosamente, algumas garrafas, algumas taças e... o silêncio. talvez seja porque eu me seduza com o mesmo entusiasmo em ler a sua alma, descobrir nossas diferenças e semelhanças e constatar o quanto te admiro. mas o mesmo silêncio do jhonny, é o meu silêncio em não saber o que dizer diante da imensidão que você é. talvez eu seja um gole daquele copo ao lado da banheira e uma dose de silêncio. só isso.
ResponderExcluir